O Que Movimenta o Nosso Mundo Não é o Conhecimento, Mas o que Pensamos Conhecer.

sexta-feira, 1 de abril de 2016


O CULPADO PELO CAOS POLÍTICO É O MOSQUITO

Senhores, meus amigos críticos, sugiro que considerem que nada escapa às estratégias políticas, à ambição de poder. Há erros de todos os lados, mas nenhum dos apontados aqui tem para a política a notação que tem para nós, patriotas verdadeiros. Lembrem-se das palavras grampeadas do Mercadante, "em política tudo pode". Não é um conceito pessoal dele, e é falsidade ideológica. E se hoje os ministros do Supremo viraram estrelas das telinhas, uma coisa nova nessa lambança toda, é porque as políticas tentam seduzir juristas importantes para suas causas particulares, e não para assegurar a justiça, muito menos o estado de direito. Nunca os ministros do Supremo foram tão importantes para a política legislativa, que jamais "pediu" ao Supremo ajuda para legislar, ou que estabelecesse "regras" para o Congresso funcionar. Essa competição exclui o interesse público e inviabiliza a unidade do estado. Os erros da presidente evocados no processo não são os únicos.

Os "impedimentos" dos presidentes, da câmara e da república, não mudarão isso. Mas não há crimes novos, esquecidos ou desconhecidos, todos sabiam o que não deviam fazer desde sempre, porque a lei é (mal) escrita por políticos (desqualificados). O que está acontecendo não demonstra que tenhamos poucas leis, mas que elas não são respeitadas pelo próprio legislador, que seduz juristas porque ambiciona o espaço funcional do executivo, e isso é um golpe parlamentarista dissimulado. Não há projetos para controlar o BNDES? Para tornar a polícia federal "autônoma"? Para que acordos entre as partes conflitantes prevaleçam à lei? Não incluíram na Constituição a prerrogativa do Congresso de convocar as forças armadas para destituir o presidente (seu chefe) eleito por voto? Chamaram de intervenção, mas isso é incompatível com a vontade popular de presidencialismo. Essas coisas aparentemente estúpidas, mas na verdade estratégicas, não objetivam o legislar, nem o fazer justiça, mas sim o governar. Representam ação de governo.

Agora vejam a degradação voltada contra a instituição da justiça. Por exemplo, a lei que indulta em 5/6 a pena para os "bem comportados depois de condenados" esculhamba um dos alicerdes da identidade institucional e jurídica de qualquer país. O código penal consolida a relação entre cada crime e cada penalidade (resgate). Ora, se ninguém precisa ser "bem comportado" até ser condenado, pra que precisamos de 1/6 do código penal? Em outra vertente, as disputas jurídicas futuras poderão ser resolvidas por acordo entre as partes, ou seja, também não precisaremos mais de juízes, nem de justiça. Para que leis, se teremos "acordos"? Alguém (que não seja o presidente) terá de exercer o controle (governo) disso, e quem será? Não precisaremos mais do caráter técnico do governo, o que dissimuladamente já é feito. E bastará à nação e ao país o caráter político, governos políticos, decisões políticas por critérios políticos. Se não gostarmos da palavra golpe, que nome darremos a isso? Talvez, traição constitucional. Esse câncro institucional me recorda as palavras do rei sol, na França monarquista: A justiça (poder) sou eu!

O golpe da política de situação é fisiológico, porque foi eleita e não quer passar o poder, para não ser presa e excomungada. Se nesse tabuleiro de estratégias, agora encorpado por decisões do Supremo, o modelo destrutivo político não for "destituído", além de sair impune ele se tornará muito mais forte. O erro passará a ser considerado o acerto, a canalhice política será um tipo novo de glória, e as "pedaladas" receberão um apelido não pejorativo. No momento, a única maneira de impedir isso tudo e muito mais, é condenar a política que teve mais de uma década para desenvolver defesas contra o modelo que ela própria criou, quando era oposição. Não o fez, degradou, roubou o impôsto pago pela miséria social, e está prestes a lançar brasileiros tão patriotas quanto ingênuos, de todas as classes, em um conflito incendiário e histórico. Ora, a âncora desse golpe é o mandato presidencial, porque não existe "impeachment" para partido político, que sustentou (dentre outros) crime previsto de responsabilidade para falsear o défice público primário, e trair a Constituição que ajudou a escrever (antes de ocupar a presidência da república). Por que exigem agora que alguma linha da carta magna diga que é ilegal fazer isso ou aquilo? Não bastam as tantas provas circunstanciais da gestão doentia e contaminosa da coisa pública? Ou será que vão por a culpa em algum mosquito?
TEM GRINGO NO SAMBA DO IMPEACHMENT

É difícil imaginar, que em algum outro momento do passado da jovem pátria brasileira e da sua inexperiente nação tenha sido criado uma situação de tamanha degeneração institucional pública e jurídica. E não faltaram razões para isso. Não deixou de haver a intensão deliberada de grupos determinados a sustentar o condenável direito de explorar e dizimar covardemente este país, imenso, riquíssimo, e a sua população ingênua, que nos últimos tempos vem escutando isso como falso consolo. Nem mesmo o próprio rei foi poupado da sanha compulsiva dos ambiciosos e desleais, inclusive portugueses, que desviaram uma fortuna incalculável em impostos, da nobreza que conseguiu falir a primeira versão do Banco do Brasil, e fazer o rei se convencer de que precisava proteger o seu erário, mas não apenas dos piratas que infestavam o longuíssimo litoral do Brasil.

O que faltou, desde o início da colonização, passando pela monarquia e por dois impérios, foi o tipo de consciência que hoje não poderia faltar. E por que? Ora, porque hoje, embora a propalada democracia seja somente um grande rótulo, os conceitos de monarquia e império não o eram. Hoje temos uma república, formalmente controlada por um regime presidencialista, de preferência popular confirmada por plebiscito, lastreada por uma Constituição Federal nem tão presidencialista mas em vigor. Enfim, hoje o conceito de instituição pública, devia ser muito mais inequívoco, as suas funcionalidades mais efetivamente garantidas, e os conceitos praticados muito mais nobres e leais à nação brasileira, que na prática elege e paga falsos representantes. E seria inimaginável alguém sustentar o próprio poder ameaçando, como fez o rei da França, "a justiça sou eu".

Não deixou de haver a vilania, o gene, unidade fundamental da genética, inclusive institucional e político, do egoísmo e da ambição pessoal. Nem a ingenuidade torpe dos coletivos, que nada tem de vilania. E Napoleão Bonaparte, de cuja sanha o rei fugiu desavergonhadamente arriscando no mar e sem propulsão própria a família e tudo que tinha, já sabia disso quando disse, "Se eu der liberdade de imprensa, meu império cairá em três dias". Mas o erro hoje é ainda mais visceral, inclusive porque homens públicos são eleitos para finalidades que não cumprem, para receberem muitas vezes compensações que não conseguiriam no mercado privado de trabalho, no mínimo por absoluta carência de qualificação técnica, para fazer leis e depois se colocarem acima delas, em nome de uma representatividade que só representa os interesses deles próprios.

Todo o processo político e institucional no Brasil pós militarismo, passando pela constituinte que estabeleceu a carta magna em vigor desde 1988, pode ser resumido em uma única e insidiosa ideia: "parlamentarismo, ainda que tardio". Ou seja, não pode ser no peito, de um "golpe" só, então iremos alinhavando, comendo pelas beiradas, e enquanto isso degradamos a unidade do estado através de uma interminável sucessão de falsos conceitos menores, e portanto muito pouco percebidos mas inseridos na lei, disseminados com a ajuda da mídia menos preparada porém dedicada ao consumismo de informações. O tal golpe, com que a situação tenta manipular a opinião pública em defesa dos seus egos, não vai acontecer, mas apenas porque já acontece, e de ambas as partes cada qual segundo suas conveniências, em nenhuma hipótese assegurando o interesse público. Pior, assumindo o risco histórico de jogar os brasileiros uns contra os outros, a partir de bordões de conteúdo duvidoso, sem entender direito o que há por trás deles.

Enquanto a comunidade internacional faz piadas e se diverte, acotovelada na falsa robustez das suas próprias instituições, por aqui não temos uma família real presa no meio do atlântico por calmarias. Ao contrário e justamente por não estarem presos, homens e também mulheres públicos, ameaçam todas as nossas comunidades com o exemplo e a disseminação de conceitos degenerados, mesmo os mais elementares, como o da unidade do estado, sem oferecer nenhum rumo seguro que não seja para um caos ainda mais grave, e para um longo século ambulatorial e de convalescença pós cirúrgica. Legislativo e executivo em guerrilha pessoal, sim, mas não somente estes poderes e não somente em nível de última instância. Dizem as piadas que no Brasil bandidos tentam prender juízes, mas nós sabemos, por exemplo, que advogados se mostram comprometidos com as causas pelas quais são pagos e não exatamente com a justiça, e por isso dizem e fazem o que lhes convém. Parlamentares são tão diferentes assim com relação ao verdadeiro conceito de representatividade democrática, de todos, para todos o por todos? Mormente agora, que ambos aparecem nas telinhas e telões cordialmente reunidos, porque políticos tentam atribuir o caráter jurídico da última instância institucional às suas intenções equivocadas, e assim evitar reações. Isso pode ser uma apoteose pseudoparlamentarista, no rumo estratégico de um parlamentarismo formal. O que farão os homens da justiça deste país?... Nem nas nossas comunidades de sambistas, ao menos autênticos e leais, se rebola tanto assim. Que maravilha... Essa metáfora aplicada ao "funk" seria inimaginável e ainda mais vergonhosa para os brasileiros.

sexta-feira, 25 de março de 2016



FAVELAS IDEOLÓGICAS IMPENSÁVEIS NA SUÉCIA

Não é clara a razão de se produzir uma entrevista jornalística com um jurista membro da suprema corte sueca. Os argumentos do respeitável juiz Göran Lambertz são impecáveis, mas os contextos são absolutamente diferentes para perguntas comparativas, e não se deve ver no abismo existente entre os ambientes brasileiro e sueco razões preponderantes oferecidas pela atuação judiciária. Em democracias, temos os poderes legislativo e judiciário, de tal modo funcionalmente dispostos que juízes não legislam e têm de julgar com base nas leis estabelecidas por legisladores, embora por aqui a distância entre as qualificações médias de uns e de outros seja tecnicamente inexplicável. São óbvios os muitos motivos pelos quais o que acontece aqui "é impensável" lá, bem como é também óbvio o caráter cauteloso das respostas do jurista. E portanto a matéria não é suficientemente elucidativa para a pretensão de contribuir para a reflexão sobre o nosso caso. Daria no máximo uma referência de sintoma, e jamais da patologia institucional.

Se o judiciário neste momento não sai das nossas manchetes, o que é atípico na cena política, isso se deve ao imperdoável enfrentamento político e estratégico promovido pelos poderes legislativo e executivo, quando tinham o dever de se somar, levado a extremos cada vez mais torpes de ambição de poder e degredação da instituição jurídica da representatividade, dentre muitas outras, o que desaguou em uma disputa pelo martelo do judiciário. Ou seja, cada um dos ambiciosos quer convencer o juiz a bater na cabeça do outro. Isso é incompatível com a necessária imparcialidade da funcionalidade da justiça, representada pela venda nos olhos da deusa Artemis. Esse comportamento político de tentar manipular as decisões do judiciário não é mais do que o desdobramento de um processo antecedente de influência, cuja escalada agora se aproxima do cume, e beira a loucura democrática na medida em que se tomam por "ingratos" juízes não alinhados à política que os indicou.

Liberta do jugo dos militares, a política vem criando, desde a constituinte, um modelo de governo híbrido e dissimulado, fantasiado de presidencialismo, que não faz leis para legislar, mas sim para governar. E por que? Ora, porque fazer leis é função legislativa, ou do parlamento, se preferirem. Com a agravante de que envolver o terceiro e último poder, passou a ser estratégico para a sustentação do erro. E o judiciário, que antes era mantido à margem pela política, agora é sugado simultaneamente por dois buracos negros em todos os sentidos, situação e oposição, cada um querendo blindar suas conveniências e privilegiar sua própria futura galáxia de estrelas. Tanto que até ministros do supremo tribunal foram transformados em estrelas em ação da mídia televisiva. Não que lhes faltem méritos, numa compareção direta e qualificativa, pela média, com legisladores, sobrariam méritos daqueles, mas por interesse estratégico da política que tudo contamina e tudo quer levar à perdição, por sua paixão inconsequente pelo poder. A dita "crise" existe, mas não se trata de um acidente climático ou tectônico que derrube barracos apoiados uns nos outros, e sem os devidos alicerces.

Se temos alguma chance de refletir e entender isentamente o que está acontecendo neste país, isso depende de entender antes o que há por trás da política, que pulou em bandos vândalos e grotescos as cercas do congresso nacional, com a inestimável cumplicidade de grandes capitalistas e empresários, sem pedir a ajuda dos ministros do supremo tribunal, e não apenas entender os sintomas desse processo. Assim como compreender que nossas melhores expectativas, no momento sem lastro em exemplos e indícios do poder público, terão de passar pelo tratamento da doença, ou seja, pela derrubada do sistema de falsos conceitos forjado para dar sentido ao que uns chamam de "mudança" e outros de "golpe", quando talvez sejam todos culpados do crime de responsabilidade de não priorizar o interesse público e a sua gestão. E de outra parte, ir para a rua é um direito. Dizer "vem pra rua" também o é. Mas o conceito de liberdade não pode ser desatrelado da responsabilidade que lhe dá o verdadeiro sentido. No mínimo, é necessário entender que as soluções só podem ser efetivadas pelas instituições, nas suas entranhas, e não "fora", para que atendam a todos e não apenas para satisfazer grupos, e porque manifestações passam, muito mais rapidamente do que os condicionamentos que possam produzir na forma de leis e por meio de pressão arvorada de popular.

A Suécia é um país europeu, e como tal em outro estágio evolutivo, com melhores índices de qualidade de vida, mas muito menor em território e em riquezas naturais, em população inutilmente alfabetizada e em leis inutilmente intimidatórias, dentre outras diferenças óbvias. O Brasil é preocupante, do ponto de vista do juiz sueco, provavelmente por dois motivos mais importantes: em parte, porque lá o político está submetido a um condicionamento jurídico que consegue conter a sua ambição; e em parte porque, embora muito pouco se fale e se fale em momentos errados, devido à debilidade institucional, somos soberanos vulneráveis aos interesses internacionais capitalistas. Um exemplo?... Os partidários do bordão "golpe" bradam por uma soberania nacional que não está em risco pelo golpe que alegam, já que são todos brasileiros com direito à opinião própria. Mas não ouvimos tantos brados presidenciais e políticos, quando se nos revelaram que computadores e celulares da presidência estavam sendo espionados. Isso sim violou a soberania nacional! Muito mais que grampear telefonemas de um cidadão submetido a uma investigação legítima, necessária e democrática, e não o celular da presidente. Ora, se alguém ligou para o investigado grampeado e falou o que não podia, que culpa pode ter o juiz? E por que esconder o que é direito da cidadania saber? Um governo que é político e não técnico usa critérios políticos técnicos, turva conceitos e tenta manipular a opinião pública, sustentáculo da sua degradada representatividade.

Será que há carência de indícios para investigar o modelo político dos mandatos presidenciais posteriores ao regime militar, forjados pelas respectivas bases políticas?... Se isso não for feito pelas legítimas instituições de agora, certamente o será, infeliz e ironicamente, pelo que hoje se chamará de intervenção militar, termo constitucional atualmente em vigor. Será que se esqueceu que, à época, também se pretextuou que a soberania nacional precisava de um golpe de estado?... Quem convocará primeiro a intervenção militar, e contra quem?... Claro, decerto será contra a democracia que a população brasileira imagina que exista, como também imaginou antes, porque não éramos e não somos suecos... O jurista Goran Lambertz tem muitas razões para considerar impensáveis coisas políticas à brasileira, acontecendo lá no seu respeitável país. Mas nós aqui precisamos que seja muito "pensável". E entender que mesmo uma situação ainda mais terrivelmente caótica, com certeza poderá propiciar alguma vantagem estratégica para políticos obstinados em desprezar o sofrimento alheio e a lei que eles próprios escreveram, seguidos por idólatras, menos lúcidos do que se imaginam e nada democráticos. Para tais pessoas, empurrar o país para um conflito generalizado muito além das paredes do congresso, creiam, pode ser uma estratégia política válida... Lembrem-se do que disse, então sob sigilo, um ministro de estado: "Em política tudo é possível"... E a culpa por essa falsidade ideológica, cultivada sem a luz do sol nos calabouços do congresso, é de um membro do judiciário, justamente o poder do sol?

Nosso sistema de falsos conceitos, "impensável" na Suécia, em alguns poucos mandatos foi de tal modo proliferado e tão desorganizadamente, que se assemelha ao processo social que poderíamos chamar de favelização de risco. Quando algum "barraco" desliza lá de cima, arrasta tudo o que haja em baixo numa lama só... Alguém procurou um juiz que o autorizasse previamente a construir seu barraco ideológico sobre outros e na beira do abismo?... Não, então não pode resistir para sempre, nem à chuva e nem ao sol da justiça.

Leia a publicação da referida entrevista do Dr. Lambertz clicando no link abaixo:

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/moro-e-gilmar-sao-impensaveis-na-suecia-diz-juiz-da-suprema-corte-sueca-por-claudia-wallin/

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

MUITAS PESSOAS NÃO GOSTAM DESSE ASSUNTO, TALVEZ ATÉ POR RECEIO DE ACEITAR A REALIDADE DURÍSSIMA QUE ELE ESCONDE. MAS ELE TRANSBORDA DE EVIDÊNCIAS, E NÃO É UMA AMBIÇÃO UNICAMENTE AMERICANA DO NORTE... MAS, ATÉ QUANDO?

A ambição de poder é uma coisa antiga. Caim matou Abel porque não aceitava que fosse o preferido, e porque tal condição produzia poderes. Essa natureza egoísta por si só, transmitida geneticamente, já é suficiente para explicar toda a história dessa nossa civilização, e creio que podemos deduzir com segurança que outras civilizações que cresceram no rastro dos milênios, cresceram até cairem, deixando grupos étnicos culturalmente degradados e desunidos. Nós brasileiros somos consequência disso, também, e em diversos graus!... A etnia africana hoje é geneticamente dominante por aqui, porque na idade média umas tribos capturavam outras para vender no litoral africano aos navios negreiros. Mas na África, grandes reinos haviam florescido muito antes, e estes já eram descendentes de civilizações ainda mais antigas, igualmente degradadas, desde as populações do continente submerso no Atlântico, defendidas por estudiosos nossos contemporâneos como a primeira civilização, e isso não apenas pela tecnologia de medição estimada com base no carbono. Eles têm diversos outros motivos nessa linha de dedução.

Todos gostamos de um conceito muito sedutor, principalmente quando também gostamos de nos colocar no lugar de um avestruz, que encontra todas as soluções enfiando a cabeça em algum buraco, ainda que tudo em volta seja degradado. Embora essa possa ser uma atitude covarde (coitadinho), ela também é uma manifestação do ego. Do um ego degradado, mas do ego. A sedução da ideia de que o otimismo seja um nome mais simpático para o buraco do avestruz, é positiva em diversas situações da nossa vidinha pouco pretensiosa. Especialmente quando podemos crer que outros fatores produzirão o que precisamos, que existe uma solução pretendida para todos e pessoas sinceramente dedicadas a ela, despojadas de interesses pessoais, e que seja, enfim, apenas uma questão de tempo. Contudo, quando buscamos nossas soluções em cenários panorâmicos, que contemplem cidades, estados, países... quando sustentamos que as diversidades somente podem esperar alguma coisa dos conceitos humanos de representatividade e de instituição, quer pública quer privada... Bem, manter o otimismo até pode ser fácil. Difícil é encontrar simples indícios de que isso venha a acontecer na prática cotidiana, que ocorra a partir da sinalização das manchetes da mídia investigativa, e como rasultado de gestão humana, com base em misteriosos planejamentos de governo de grande amplitude, de que tal otimismo se revele fator realizador coadjuvante de estratégias de conceito e de ação humanos. Na ausência de estratégias públicas de longo alcance e de cataclismos que forcem atitudes nessa direção (Deus nos livre!), seria necessária, antes, uma "reforma" genética, ainda mais demorada e isenta de manipulações paralelas, e somente depois todas as outras reformas que têm sido prometidas como solução política, e sempre proteladas. Felizmente! Por nos poupar de mais sofrimentos.

Sim felizmente, com ponto de exclamação... A única razão plausível para justificar a prática de criar instituições e condicionamentos jurídicos, antes de que haja um contexto psicossocial adequado para exercê-los, é a exploração da ineficácia que isso produz, para objetivos que não são das sociedades, mas sim dos grupos que investem nessa situação e as promovem. O que chamei de "contexto adequado" deve ser previamente construído por processo de desenvolvimento, e não imposto. Muito menos por meio de lei, porque leis são produto de legisladores, legisladores são políticos, e o modelo de política que se pratica é literalmente incapaz de criar contextos adequados para a sociedade. O rótulo da moda, criado pela política de situação atual, é "pátria educadora", mas essa expressão, como política pública, não tem significado conhecido porque educação é algo que contempla vários universos, e porque, assim como para tudo mais, não existem planejamentos técnicos conhecidos compostos de conceitos, objetivos, critérios, métodos e prazos, pelos quais se poderia avaliar alguma perspectiva. O que realmente existe é um universo particular de interesses, dissimulados por trás de rótulos desse tipo. E com muita certeza, esses grupos têm planejamento para seus interesses, e de longo prazo, especialmente para o objetivo de poder.

A mais completa planificação de poder para o mundo atual é representada por outro rótulo: a globalização. A rigor, não é necessária uma formação acadêmica para se entender que globalização, sob a ótica do poder, significa na verdade eliminar concorrentes e submeter a outros, mas não há proposta de reformas do sistema de conceitos dominante. Ou seja, se não mudamos previamente os conceitos, "globalizamos os nossos erros, as nossas injustiças, os nossos conceitos degradados e, claro, o nosso poder". E então qualquer dissidência será considerada criminosa, porque todos os demais aceitaram. Não é razoável imaginar que as maiores potências confiassem um poder de comando autônomo a alguma outra, nem tão potente, e nem deduzir da experiência que um tipo de grupo ou instituição fosse capaz de se despojar de seus interesses, para poder assumir isentamente os interesses globais. Não, não é razoável crer que americanos do norte e judeus fossem capazes disso, valendo a mesma lógica para governos europeus e asiáticos. Sequer podemos ter garantias de que americanos, judeus, europeus e asiáticos, estejam realmente a salvo de grupos menores, mas poderosos franco atiradores, que desenvolveram a mais terrível arma que o mundo já viu: a predisposição beata de suicidar-se matando sabe-se lá a quem. Não importa quem morra, mas apenas que morra, pelo interesse de quem vive planejando essa aberração abominável, que nem precisa ter um desafeto para matar. A próxima etapa nesta direção de conflito já está clara: guerreiros robóticos. Mas nem isso assegura o interesse das sociedades, porque não há garantias de quem controlará os robôs, nem com que objetivos.

Alguém inventou uma tecnologia de lâmpada de imensa longevidade e baixíssimo custo, e agora precisa de proteção, porque sua invenção põe em risco os investimentos e interesses comerciais de grupos poderosíssimos. Um exemplo correlato de conceito degradado, dentre outros, é o de que os interesses de seletos grupos capitalistas seja prioritário e justificado, em relação ao interesse global. Ao longo do tempo, instituições religiosas contaminadas pela ambição de poder e pela natureza do ego, financiaram e abençoaram homicídios incontáveis, como a judaico-cristã desde que se apoderou do já dividido império romano, na europa e na ásia. Distribuía religiosos plantados ao longo dos caminhos dos soldados cruzados, prometendo a eles "flats" no reino de Jesus. Seu exército religioso e armado de crucifixos, a Companhia de Jesus (jesuítas), na prática da sua religiosidade ferrenha e segregacionista, serviu aos reis colonizadores que exploraram, escravizaram e dizimaram populações primitivas, pretensos bruxos europeus, judeus que não aceitaram se declarar "cristão novos" (por escrito!). Contudo não proibiram pilhagens, estupros e tantos outros "crimes de percurso" que seriam condenados por Jesus, até por simples coerência. Hoje, em um processo muitas vezes semelhante e de atitudes violadoras, islâmicos se insinuam em todas as partes do mundo. E há certamente um ambicioso e complexo plano nisso, já que antes criam o pavor que leva enormes massas a imigrar. Nesses casos, um exemplo correlato de conceito degradado, dentre outros, é o de que o Criador de bilhões de galáxias compostas de bilhões de planetas, precisa de soldados humanos, e de políticos humanos, e de toda a destruição causada na sua obra neste planeta, para que os conceitos, objetivos, critérios, métodos e prazos do seu plajemento divino dêem certo!... Ora, poderíamos listar incontáveis conceitos degradados e complementares que submetem as massas, mas não os seus líderes e favorecidos, estruturados no que chamei de sistema de conceitos.

O Criador (qualquer que seja o nome que se atribua ao ser supremo) obviamente não carece de poder ou sabedoria, e nem de paciência, para resolver os problemas do homem neste planeta. Porém, não é esta a questão que inviabiliza as soluções. Ele não se candidata a eleição para cargo do legislativo, não faz promessas da competência do executivo, e não "concede" ao judiciário a oportunidade estratégica e degradante de criar "regras" que isolem o poder concorrente. Jesus não recebe salários desproporcionais à sua qualificação, não se aposentou com oito anos de serviço e não tem correção do valor do benefício, e não se desloca usando jatinhos, pertencentes a capitais que se recusam a exercer seu poder para cumprir o papel social que lhes cabe... Mas há por aqui mesmo, bem pertinho e em todas as telas, telinhas e telões, vaidosas "estelas" que se propuseram voluntaria e espontaneamente a promover as soluções necessárias todos, em troca de um salário que elas próprias estabelecem à revelia do patrão, e sem sequer se dar ao trqabalho de um planejamento técnico à altura das suas responsabilidades.

A reforma do sistema de conceitos não será um tipo de milagre divino, e não ocorrerá num dia daqueles em que o Criador executou a criação. Ela terá de ser um processo, assim como, respeitadas as proporções, fez a natureza que Deus criou, honestamente, durante bilhões de anos. E ainda assim, tão hercúleo messiânico projeto político representativo, terá de começar pelo mais degradador dos conceitos degradados: o de que a justiça só tem sentido se todos os direitos forem respeitados. Aliás, é oportuno lembrar aqui que todas as revelações divinas conhecidas do homem na forma de religião, convengem em um ponto conveniente ao argumento, qual seja o da infalibilidade da justiça divina. É verdade que essa ideia é pano para muita manga, se pretendida para a justiça humana. Mas, amigos, não se iludam e não se deixem iludir, não tentem se poupar de exigir isso, nem por otimismo: ou se começa pelo fim das impunidades, e das concessões para condenados, que degradam a substância jurídica do códigos penais e da autoridade da instituição da justiça... ou não haverá nenhuma reforma efetiva. E será inevitável cortar os cabelos dos nossos hércules, as cabeças das nossas víboras, e encoleirar as nossas lagartixas, com o cuidado de não lhes cortar os rabos.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016



MILITARES E A SEDUÇÃO POLÍTICA


Há fatos que rompem premeditadamente os limites da tolerância e do bom senso, mesmo das pessoas mais equilibradas e lúcidas. Uma postagem de 06/01/2016 no Facebook, Grupo Voz das Redes (dito dubiamente fechado e democrático), com link para o site periódico Portal Pensa Brasil (Em Busca da Notícia), fez algo assim comigo. Não pude me conter para alertar meus amigos sobre o caráter dessa postagem intimidadora (intervenção militar iminente), que viola diversos dispositivos tanto da Constituição quanto dos próprios códigos do exército brasileiro, porque caracteriza politização de grupos militares, com intuito de formar opinião pública como húmus que favoreça a germinação de ideias daninhas. E como se faltassem elementos para a avaliação correta, na tal "nota" evoca-se a mesma degeneração ideológica com que se tentou justificar o golpe de 1964, e se usam artifícios enganosos e ameaçadores do tipo "teremos de dar uma resposta ao nosso povo brasileiro" e "estamos de olho".

Bem, antes de mais nada é preciso dizer que os erros técnicos do partido da presidente parecem cada vez mais indefensáveis, assim como alguns dos dela, mas que a atribuição da figura de governo ao poder executivo é uma deslealdade política, que não é compatível com o conceito insofismável da unidade do Estado, que nem pode ser pretendida, por exemplo, por legisladores que apresentam projetos para que o Congresso decida sobre a gestão de banco público de desenvolvimento econômico. Isso é querer governar e não legislar, invadir e esvaziar o poder executivo, e por ambição de poder truques, trapaças e abusos são diariamente esgotados da cartilha desse modelo brasileiro de fazer política. Isso é priorizar o interesse de grupos políticos em vez do interesse da nação e do país. E mais, recusar e desrespeitar o condicionamento eleitoral e de representatividade que os próprios legisladores criaram. Ou será que os derrotados inconformados inventarão que o executivo criou leis eleitorais para ganhar? Não. A reeleição foi definida pelos critérios previamente estabelecidos, pelos legisladores.

Todo esse caos chamado de crise foi provocado pela ambição política, pela politização de todo o Estado, que passou a gerir a coisa pública segundo critérios políticos em vez de técnicos. E não fez isso agora. A Assembléia Constituinte (1988), por exemplo, arvorou o Congresso da prerrogativa de solicitar intervenção militar contra o poder executivo (chefe do Estado e das Forças Armadas), o que caracteriza o falso presidencialismo que constituintes parlamentaristas inventaram para a Carta Régia. Pois bem, os tentáculos dessa política estão arrebanhando militares, provavelmente insatisfeitos com a provisão de recursos que lhes é reservada, bem como estimulando a manifestação crítica de outros setores públicos. Pode parecer muito simples (na verdade é simplório) o entendimento deste direito. Há outros direitos e deveres a serem considerados.

Não se discute que funcionários públicos, inclusive militares, são também eleitores e contribuintes e não há injustiça nisso. Contudo, para que cidadania e funcionalismo público não se confundam, suas funções públicas criam um vínculo de responsabilidade com a lei e as instituições, que lhes desautoriza agir por conta própria contra elas e afrontar a necessária hierarquia da função pública, ainda que em nome da sua cidadania. A crítica sobre as ações de governo, seu caráter ou competência, deve caber aos cidadãos e às instituições não submetidas à hierarquia funcional, ou teremos o direito espúrio de desunir e degradar o Estado, numa espécie de implosão que estilhace o interesse de todos os brasileiros. Aliás, como já pratica deslealmente o modelo de fazer política Se funcionários públicos, de qualquer tipo, desejarem se posicionar contra o "governo", penso que devem fazê-lo e que não faltariam motivos que lhes oferecessem justificativas, todavia, antes deviam renunciar às suas responsabilidades funcionais públicas e depois sim, como cidadãos comuns, manifestar as suas razões democraticamente, ou seja, sem comportar-se subversivamente em relação ao ordenamento a que deve se submeter todo o funcionalismo.

Nenhum brasileiro e patriota deve estar satisfeito com o caos que a política estabeleceu. Todos os cidadãos têm o direito, e não o dever, como quer a propaganda política, de participar das soluções, já que elegeu representantes, que são generosamente bem pagos para solucionar. Mas os que se arvorarem de direitos democráticos para se manifestar criticamente devem, ao menos por coerência, agir de forma democrática, e isso pressupõe a legalidade e a priorização do interesse público em relação aos particulares. Ou nós, o povo, estaremos degradando a nossa democracia. E aqui cabe o entendimento mais correto da representatividade, qual seja o de que políticos podem abraçar causas de grupos, hipoteticamente seus eleitores, mas penso que constitui falsidade ideológica sustentar que isso o exima da responsabilidade para com a nação. Em outras palavras, todos pagam a conta de tudo. Só pode existir um Brasil, um ordenamento jurídico, uma nação, uma economia e um gestor público: o Estado uno. E portanto não são legítimos os argumentos usados para confundir, e inventar interpretações degeneradas do direito, que inviabilizem essa unidade fundamental. Muito menos se pode adimitir que tais interpretações venham de legisladores que deveriam ser qualificados para exercer seu papel.

domingo, 3 de janeiro de 2016



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LIBERDADES, NÃO SABEMOS USÁ-LAS


Ando desanimado para participar de redes de relacionamento, e ter de suportar uma torturante sequência no feed, de postagens aparentemente acéfalas. Criamos um condicionamento de consumo terrível, que nos leva a clicar em alguma coisa, sem a percepção do que significa o coletivo, o comportamento coletivo, e do quanto pode ser explorado, sabe-se lá por quem, para objetivos que não sejam percebidos e muito menos sejam nossos. Muitas pessoas postam e compartilham sem um mínimo de bom senso, salvo o de participar. Dão-se ao trabalho de editar imagens antes de postá-las. Põem nas bocas alheias palavras que por vezes nem são delas, ou com contextos levianamente modificados. Confundem o direito de ter opinião com as responsabilidades de fazer acusações, ora dissimuladas e ora explícitas, sem que se possa sequer imaginar que pudessem provar alguma coisa, e de violar direitos de imagem e autorais dolosamente. Pode-se considerar até que seja irresponsavel a utilidade que se dá às liberdades de hoje, que antes foram um sonho.

Mas seria um risco enorme afirmar que "antes" era melhor, fechando o foco na ausência de liberdade. Dizer assim seria mais conciso: seria melhor sem liberdades desprotegidas de bom senso, responsabilidade, e de mecanismos legais preventivos e corretivos. Então sim, estaríamos sendo mais cirúrgicos na análise. Porque generalizando a partir da censura do regime militar, pareceria a muitos que apenas a censura era inconstitucional, quando o próprio regime o era. E não se iludam com o argumento de que o Congresso Nacional teria solicitado na época uma intervenção militar pois ainda que o fizesse espontaneamente, nenhum congresso solicitaria uma revolução, nem a própria cassação e nem mais de vinte anos de violações. Se demonizava os socialismos, e o comunismo, versão socialista mais radical, controladora da iniciativa do capital privado, paternalista e violenta. Mas estranhamente ao seu discurso demagógico, o que fez o governo revolucionário além de falso e repressor paternalismo? Ademais, alinhou-se aos interesses do capital dos que venceram a guerra e tinham planos para "vencer" o mundo, prometendo muitas liberdades para os seus. Se a maioria dos brasileiros quisesse o socialismo, qual seria o papel da representatividade política e das forças armadas?... Não se deixem enganar, o que houve foi ambição de poder, e as ideologias foram mais uma vez usadas como rótulos. E se olharmos para o contexto crítico contemporâneo não encontraríamos outro tipo de ambição... Não é culpa do capitalismo não, mas do capitalismo que é praticado. Assim como não é culpa da política não, mas da política que é praticada. Não tinha que ser assim. O erro está na raiz, no sistema de conceitos, e não em formas pré-estabelecidas.

Investem em tecnologia, mas nem tanto no controle do seu uso, como se esta fosse de responsabilidade exclusiva do poder público, o grande pai, que também muito pouco faz de efetivo, e de cada pai dos seus filhinhos adolescentes, libertários e consumistas, mas sem bagagem da vida. Agora temos um rótulo diferente porém não menos enganoso, o do liberalismo, em várias versões. E paradoxalmente, trama-se febrilmente por um parlamentarismo, tão característico dos regimes de governo socialistas e, no nosso caso, tão formal e insofismavelmente desautorizado pela cidadania. Uai... O socialismo não era o demônio do mundo? A ameaça comunista não justificava colocar as forças armadas contra cidadãos, eleitores e contribuintes brasileiros, presos e muitos não devolvidos, mas que pagavam pelas armas com que eram ameaçados, torturados e desparecidos para que não houvessem provas? A quem elas armas representavam na verdade? Não haviam instituições competentes neste país para assuntos internos, nem leis nem justiça institucional? Acaso alguma vez a diminuta Cuba invadiu o colossal Brasil, ou qualquer outro país soberano, quaisquer que fossem o tamanho territorial e a distância logística, comparados ao poderio militar e humano cubanos?... As tais liberdades ameaçadas pelo comunismo deviam ser outras, porque o conceito de liberdade aplicado na dissimulada ingerência do grupo americano do norte não serviu ao Brasil, na sua proporção. Mas serviu e muito aos banqueiros, por exemplo, que não limitam ou estimulam a liberdade através de decretos, apenas porque têm seus próprios meios, seus próprios direitos e seus próprios critérios soberanos. Ninguém lucrou tanto quanto os banqueiros.

Sustenta-se que a solução esteja nas liberdades do capital, dos mercados, do consumo, da representatividade política e, para falar da última moda, de ministros do Supremo Tribunal e outros juristas. Mesmo considerando o lapso de tempo a partir da chamada redemocratização, e até a crise atual, é bastante clara, para quem queira enxergar, a realidade: também não funciona para a sociedade e muito menos para os seus estratos menos privilegiados. Um exemplo cabal, dentre tantos outros: provavelmente já exista um aparelho de telefonia móvel para cada cidadão neste país, mais de duzentos milhões de celulares e assemelhados já foram vendidos. Mas quantos deles são usados pagando-se por caríssimos créditos? E a telefonia convencional, tem garantias do poder público? E a telefonia pública (orelhões), ainda funcionam? Ora, quem realmente ganhou com o projeto de telefonia móvel do governo? Se escolhêssemos outra responsabilidade do poder público, na amplitude que é devida, o resultado não seria muito diferente. O Estado terceiriza tudo que pode, mas nem as suas finanças isso resolve. Não fiscaliza e ainda pretende transferir suas responsabilidades constitucionais para os terceirizados, como se algum contrato, e muito menos público, pudesse fazer essa mágica.

Uma pergunta parece inevitável aqui, ao menos para as mentes dos que não se conformam em ser simplesmente arrebanhados e pastoreados pela política: por quê também não funciona?... Bem, caberia como resposta uma infinidade de fatores, dados, índices e versões interpretativas, em duas vertentes insuficientes, umas porque não estabelecem uma relação clara com o conjunto, e outras porque são na verdade consequências e não fatores diretos, caso em que se incluem quase todos os dados e índices analíticos comumente utilizados. Os nossos políticos, na sua maioria, não têm qualificação nem intimidade com informações, fundamentos e critérios técnicos, e não o tem porque a lei, feita por eles, entende que não é necessário e portanto não exige. Contudo, para responder à "pergunta inevitável", nesse caso específico, é mais exigível a mais simplória (e nem tanto simles) isenção. Na prática, as ideologias não funcionam apenas porque não é o que se pretende. A intenção é usá-las como rótulos. Não funciona porque não é feito para funcionar, do ponto de vista da sociedade. Mas funciona perfeitamente para o político e para o capitalista/empresário a quem o político realmente representa... Será necessári0 um grande arcabouço técnico, qualquer que seja a especialização, para entender coisa tão simples (e não simplória) e tão óbvia como essa? Quando se resolver priorizar o social, qualquer ideologia fará com que tudo funcione, e não será necessário adotar um tipo de socialismo ortodoxo, que parece encher de pavor as direitas brasileiras.

Hoje querem e convencem a muitos, como os nossos partidos comunistas não são influentes, que o demônio seja o PT, comunista dissimulado, e para isso fecham o foco nos seus incontáveis e históricos rabos, incluindo-se a combatividade exacerbada de alguns militantes. Mas o que tem isso a ver com ideologias acadêmicas? Que se saiba nenhum teórico inventou um sistema de propinas institucionalizado, abrangendo a pluralidade partidária. Que se saiba, o governo é responsabilidade do Estado e não do poder executivo, mesmo quando programas demagógicos quebram finanças. Que se saiba os poderes têm obrigação de serem congruentes, em vez de competitivos sem planos alternativos convincentes e conhecidos. Que se saiba o Estado não se constitui numa empresa capitalista com objetivo de lucro. E sobretudo, que eu saiba, o poder público não é dono de nenhum capital, nem de coisa nenhuma. Muito menos das pessoas e, nem pensar, das liberdades. Contudo, desde a redemocratização, já teve tempo suficiente para regulamentar o uso das liberdades, sem precisar de que ministros do Supremo Tribunal, indicados pelo executivo, a rogo do legislativo legislem como serão feitas coisas como derrubar o executivo já eleito diretamente e empossado. O próximo passo talvez seja solicitar às Forças Armadas, que não são um poder de Estado democrático, que destituam a chefe do Estado, ou seja, sua chefe. Ora, já vimos esse filme. Se não me engano era rotulado, perdão, entitulado, "Soberania Nacional" ou qualquer coisa deste tipo, e custou para o congresso da época mais do que poderia ser pago por qualquer lei de incentivo fiscal.

O que me deixa assim de participar de redes na internet, é ver como se numa enxurrada de lama contaminada, tamanha quantidade de pessoas aprendendo os mesmos erros e praticando alguns deles, que preferia ver essas pessoas combatendo-os, por seus direitos mas sem ferir outros. Embarcando em mais uma falsidade ideológica impune neste país, aquela com a qual a política tenta respaldar de representatividade os seus erros. Porque qualquer cidadão tem o direito de protestar, se manifestar, criticar, propor soluções e, até mesmo, reflexão, como faço eu. Contudo isso tem de ser um direito e jamais uma obrigação, como tenta enganar o discurso político. Dever, têm os que se propuseram espontaneamente a fazer isso, passando a perna no arcabouço técnico executivo, e pelo que ainda são generosamente bem pagos. "Democracia é Participação"? Pode ser, por direito, dentro da legalidade e mesmo sem filiação.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015



NOSSO FACISMO NÃO TEM FACE (AINDA)


É covarde e dissimulado, oportunista e destrutivo. E assim como o resto acha que a solução seja atingir pessoas, individualmente, como se elas pudessem agir à margem do sistema, independentemente, ou como se elas não fossem suceptíveis de serem enganadas, ou ainda como se os contextos não se modificassem. Parece o nosso facismo ser pretensamente praticado por pessoas que não sabem o que estão fazendo, mas têm a intensão muito clara de prejudicar e de violar direitos de outros. Não dá pra imaginar que tenham alguma boa intensão, e nem que ajam por simples opção, isentamente de interesse pessoal e egoista. Mas cuidado, amigos. O facismo não é bem isso, na verdade é muito mais, foi criado na Itália como modelo de governo e considera-se a data de Mussolini: 1922. Adorado pelos italianos durante anos (a guerra começou em 39), foi estigmatizado depois, pejorativamente, como tudo que atrapalhava o domínio do capitalismo rotulado de democrático, e hoje o termo é sinônimo de fanatismo violento e de irracibilidade. Mas o pior é que o nosso facismo não tem face, tem muitas, escondidas atrás de outros rótulos, e da impessoabilidade da internet.

Aliás, esse caráter de víbora não é uma exclusividade de facistas. Podemos vê-lo em muitas atividades, sempre que alguém se esconde ou se mistura com as próprias vítimas. Assim, a política se mistura com falsas ideias entre os coletivos nem tão pensantes, o crime organizado usa a população trabalhadora como escudo ou alvo, os terroristas se escondem atrás de dogmas e interpretações religiosas, que não têm aceitação nem mesmo da maioria dos seus semelhantes, e de alguma forma todos acabam usando meios violentos e covardes, porque de outra forma não atingiriam seus objetivos. O nosso facismo vai por esse caminho. Não temos por aqui um governo que se possa tachar de facista por seu modelo de governo, mas temos muitos facistas na política, em vários partidos, como sempre oportunistas insidiosos, mas não são (AINDA) um regime de governo. E então muitas pessoas que querem apenas se manifestar e não governar, chafurdam nos seus alegados direitos democráticos.

Meus amigos, as ideologias nada podem produzir, são apenas organização de ideias. As pessoas que as usam é que fazem delas rótulos enganosos, para justificar seus enganos. As ideologias só tem sentido para o conjunto, mas são usadas para interesses particulares. O que as distingue e caracteriza é a sua integridade, contudo, o que se tem feito é cortar fatias de uma delas, ou de algumas, e proclamar que são ideologias, conforme a conveniência das pessoas que escolhem as fatias. E por paradoxal que fosse, eu talvez apoiasse! Desde que pudesse enxergar nessa salada uma priorização do bem comum, em vez de inúteis sectarismos. O facismo também é uma ideologia e um modelo de governo, assim como o comunismo, ambos hoje pichados de valores pejorativos, para o bem dos planos imperiais dos grandes capitais americano e judeu, desde o fim da segunda grande guerra. Mas esse processo de extermínio ideológico dissimulado, com fantasias resistentes a bala e outros superpoderes, produz também a própria criptonita, assim como o pretenso desenvolvimento tecnológico social produz lixo contaminoso. Se a prioridade dos governantes e dos que lucram fosse o bem comum, se os poderes de governo fossem harmônicos, congruentes com as soluções que deviam sentir-se obrigados a promover, essas mentiras institucionalizadas e oferecidas como solução não criariam raízes, não dariam frutos amargos, e não veríamos um dos chefes do Congresso Nacional dizer que "rompeu" com a chefe do Estado, como se essa figura jurídica existisse, num churrasco, no seu quintal familiar. Ora, rompesse, não seria por falta de motivos. Mas antes renunciasse, e então, como cidadão comum, teria esse direito.

Afinal, nada acontece apenas porque essa ou aquela pessoa queira fazer. Todos, sem exceção, estão submetidos, no mínimo, ao conjunto de fatores que lhes escapam do controle, por mais que tentem evitar. E é isso que justifica os caráteres violento, enganador e destrutivo: as necessidades de sustentar ambições particulares, de submeter obstáculos, de subverter a multiplicidade, e tudo se justifica pelo falso direito de obstinação inconsequente do ego. A exclusão da livre competitividade foi um erro das ideologias socialistas, e a sua exacerbação um erro do liberalismo, todavia o erro que não se corrigiu foi outro, o falso conceito de que o Estado tem direitos acima dos da sociedade. Falso direito pai do filho igualmente degenerado, o direito da competitividade dentro do Estado, como se não houvesse o compromisso com o bem ou o interesse comum da sociedade, múltipla como ela tem de ser. composta de trabalhadores e patrões, de consumidores e capitalistas, de eleitores e políticos.

O que tenho proposto aos meus amigos é a seguinte reflexão: o pano de fundo de tudo isso que está acontecendo é um sistema de falsos conceitos, e não de políticos, de capitalistas, de verborrágicos e interativos internautas. Este sistema contamina a lei e as ações de todos os poderes, oferecendo respaldo sistêmico. Ninguém cometeria tantos absurdos se não houvessem as convicções de que permaneceria impune, de que outros se calarão, de que o sistema é institucionalizado, de que a massa é ingênua, desmemoriada e moldável, e pior, que é bem representada pelo caráter do político médio, que afinal ela elege. Esse sistema que, por exemplo, permite que alguém, bastando ser brasileiro e alfabetizado, se candidate ao legislativo oferecendo como compromissos seus ações do executivo, tem de ser corrigido antes de qualquer outro resultado. Temos um Estado mórbido e alucinado, assim como as instituições associadas. Precisamos sarar esse câncer político e social, porque só a instituição sadia poderá promover as mudanças de que necessitamos, por suas próprias funcionalidades sadias, seu fisiologismo sadio.

Quando os conceitos falsos forem trocados por conceitos corretos e justos, as pessoas e as instituições se realinharão, no mínimo por suas próprias necessidades. Precisamos resguardar não as liberdades mas o uso delas, criar mecanismos para isso. As pessoas precisam aprender a ter e usar direitos, a conviver com a diversidade, inclusive com o facismo. Não podemos esperar soluções que julguemos direitos produzindo sectarismo e exclusão, ou seja, direitos de outros, as soluções têm de ser para todos. Eleger individualidades, quer para elogiar quer para sacrificar no nosso lugar, não produzirá nenhuma solução permanente. Usar as faces de um Tiririca ou de um Chico Buarque, as suas qualificações, convicções e outras privacidades, para formar e manipular opinião criminosamente, ou qualquer outro mecanismo criminoso, não produzirá solução institucional e dignidade. Não precisamos disso, mas sim de um sistema de conceitos que não dê margem e estimule coisas assim, por impunidade. O exemplo do uso correto das liberdades, que custaram tão caro a tantos jovens e patriotas brasileiros, tem de partir de cima, pela institucionalização de conceitos justos e honestos, e pela absoluta priorização da demanda de necessidade pública, em lugar dos direitos particulares dos que deveriam se dedicar aos direitos da sociedade.

Quem ganha para apagar incêndios é o corpo de bombeiros. O legislativo ganha para tratar do condicionamento jurídico das relações entre as pessoas e instituições, e delas entre elas, não para governar, e se há leis que degeneram os poderes foram feitas por legisladores degenerados, ou desqualificados para sua função. Quem ganha para governar é o executivo técnico, segundo critérios técnicos (e não políticos). E quem ganha para assegurar o condicionamento estabelecido é o judiciário. Seria simples, se o sistema de conceitos praticados não permitisse a competitividade entre poderes, que inviabiliza a unidade de um Estado, que não é facista mas não tem face reconhecível, porque criaram um regime de governo híbrido, fantasiado de presidencialismo democrático, para enganar a preferência popular conhecida e comprovada nas urnas. Condenemos a todos os criminosos, é o justo. Mas a todos, e aos criminosos, e sem regalias e privilégios que suavizem a penalidade. Mas tenhamos muito cuidado com o uso do populismo irresponsável, mais do que com os programas demagógicos. Depois de vários anos amado e com índices altíssimos de popularidade, o Duce, apelido carinhoso e popular de Mussoline, acabou fuzilado junto com sua amante (que podia ter fugido) por rebeldes, e seus corpos foram expostos desrespeitosamente no teto de um posto durante dias, para execração pública.

Amigos, sectarismos e violência nunca foram solução permanente. Temos nesta terra tudo que precisamos, naturalmente. E as únicas soluções de que necessitamos são para todos, de todos e por todos.